sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O SERTÃO QUE EU VIVIA.

Eu pedi a Jesus em uma rima
Que me desse influente inspiração
Pra falar das coisas do sertão
Sem mexer no futuro e nem na sina
Do menino pequeno e da menina
Que nasceram pra viver nesse torrão
Cuja escolha não foi uma opção
Mas uma imposição do Salvador
Que aqui dizem ser Nosso Senhor
O Bem Feitor de toda criação.

O sertão não é mais o meu sertão
Que amei e vivi no meu passado
Hoje é um sertão desfigurado
Sem essência, sem cara e sem razão
Sem terreiro, sem taipa, sem oitão
Sem caatinga, sem caminho sem roçado
Com um povo que vive escravizado
Na cultura no gosto e no desejo
Fico triste ao ver que o sertanejo
Hoje é um povo em si desfigurado.

As festas juninas de hoje em dia
Perderam a beleza e a essência
Não têm o glamour da inocência
Das festas juninas que eu via
Não se Vê no povo a alegria
Nem nas festas aquela efevercência
Pois só quem já viveu a experiência
Sabe o que era uma festa nordestina
Tal as festas dos pássaros na campina
Festejando o nascer da descendência.

O forró que no passado era trilha
Nos terreiros, nas salas e nas latadas
Que ecoava nos becos e nas estradas
Hoje cala, nem nos rádios estribilha
Se ainda alguém tem um rádio de pilha
As musicas de forró não são tocadas
Pelos jovens elas são subjugadas
Pois preferem o funk das favelas
As quadrilhas que de simples eram belas
Como escolas de samba são julgadas.


Caruaru, a capital do forró
De capital do forró não tem mais nada
Para vencer uma disputa criada
Pela mídia aventureira em derredor
Caruaru esqueceu seu dom maior
De apoiar sua gente preparada
Seus artistas perderam esta parada
Só os artistas de fora têm valor
Tocam samba, funk ...seja o que for
É pra o turista que a festa é preparada.

Com o candeeiro as tradições se apagaram
Veio a energia e com ela o moderno
Veio a guerra entre o céu e o inferno
Que as TVs evangélicas propagaram
As novelas da Globo exterminaram
A tradição do terço ao pai eterno
Padim Ciço hoje é pastor e usa terno
É Valdomiro, Edi Macedo ou Malafaia
A moto hoje é jumento sem a baia
Meu sertão só existe no caderno.

O sertão que eu cresci era bonito
Tinha classe mesmo sendo pitoresco
Para o calor uma sombra refresco
Meus sonhos navegavam no infinito
Quando um vaqueiro na solta dava um grito
Ou um boi ruminava o capim fresco
O meu mundo era um mundo nababesco
No meu nada tinha tudo pra buscar
Tinha um mundo de sonhos pra sonhar
E por estas coisas eu tinha apreço.

Dói de mais para mim um sertanejo
Que viveu no sertão que eu vivia
Cheio de sonhos, festas, alegria
E hoje vê o sertão que hoje vejo
Mas como sou um sonhador ainda almejo
Ver o sertão como outrora existia
De vaquejada pra vaqueiro e cantoria,
No alpendre da fazenda e café quente
Se eu pudesse meu deus pra minha gente
O sertão do meu passado eu devolvia.